Atualmente, esse tipo de compreensão acabou perdendo espaço para outras formas de recuperação do passado. Muitos historiadores passaram a ver que as fontes que documentam o passado não se resumem aos documentos escritos. As manifestações artísticas, a oralidade, a cultura material e outros vestígios podem se entregar no entendimento do passado. Com isso, o mundo pré-histórico deixou de ser visto como um tempo “destituído de história”.
Período Paleolítico
Sem contar com técnicas de produção agrícola, o homem vivia deslocando-se por diversos territórios. Praticantes do nomadismo, os grupos paleolíticos utilizavam dos recursos naturais à sua volta. Depois de consumi-los, migravam para regiões que apresentavam maior disponibilidade de frutas, caça e pesca. Para fabricar suas armas e utensílios, os homens faziam uso de osso, madeira, marfim e pedra. Devido a essas características da cultura material do período, também costumamos chamar o Paleolítico de Período da Pedra Lascada.
Por volta de 40 mil anos, os povos do paleolítico começaram a viver em grupos mais populosos. Ao mesmo tempo, começaram a criar novas moradias feitas a partir de gravetos e peles de animal. Uma das grandes fontes de compreensão desse período é encontrada nas paredes das cavernas, onde se situam as chamadas pinturas rupestres. Nelas temos informações sobre o homem pré-histórico referente à suas ações cotidianas.
No fim do Paleolítico, uma série de glaciações transformou as condições climáticas do mundo. As temperaturas tornaram-se mais amenas e, a partir de então, foi possível o processo de fixação dos grupos humanos. Com isso, uma série de mudanças marcou a passagem do período Paleolítico para o Neolítico.
Período Neolítico
Novas formas de organização social surgiam e, assim, as primeiras instituições políticas do homem podem ter sido formadas nessa mesma época. A criação e o abandono de formas coletivas de organização sócio-econômicas podem ser vislumbrados no Neolítico. Conforme alguns pesquisadores, as primeiras sociedades complexas, criadas em torno da emergência de líderes tribais ou a organização de um Estado, são frutos dessas transformações.
Idade dos Metais
O primeiro tipo de metal utilizado foi o cobre. Com o passar dos anos o estanho também foi utilizado como outro recurso na fabricação de armas e utensílios. Com a junção desses dois metais, por volta de 3000 a.C., tivemos o aparecimento do bronze. Só mais tarde é que se tem notícia da descoberta do ferro. Manipulado por comunidades da Ásia Menor, cerca de 1500 a.C., o ferro teve um lento processo de propagação. Isso se deu porque as técnicas de manipulação da liga de ferro eram de difícil aprendizado.
Contando com sua utilização, observamos que a maior resistência dos produtos e materiais metálicos teve grande importância na consolidação das primeiras grandes civilizações do Mundo Antigo. Assim, o uso do metal pôde influenciar tanto na expansão, como no desaparecimento de determinadas civilizações.
Pré-História Americana
Outros vestígios dessa mesma época são feitos a partir da ossada de animais extintos como mastodontes, bisões e camelídeos. Durante o Paleolítico Superior, datado entre dezessete e dezesseis mil anos atrás, temos algumas amostras de pontas de flecha e facas de pedra com um maior grau de elaboração. Por volta de 10000 e 9000 a.C., os objetos pontiagudos deram espaço para outros utensílios de aspecto mais arredondado.
Nesse momento, observamos a fixação de diferentes civilizações por todo o continente. Na porção norte, noticiou-se a presença dos anasazi, mongollon e hohokan. Na América do Sul temos o surgimento das culturas andinas, com especial destaque aos incas, e dos povos caraíbas, guaranis e tupis. Foi nessa mesma época que as primeiras comunidades indígenas se desenvolveram no Brasil.
Pré-História Americana: Período Paleolítico
Contudo, sabemos que a história do homem nas Américas começa no período Paleolítico Inferior, época que tem suas informações fundamentais restritas à análise de um conjunto específico de vestígios. Em geral, o homem americano trabalhava com instrumentos produzidos em pedra talhada. Além de utilizarem pedras talhadas com uma ou duas faces, os grupos dessa época também construíam objetos com ossos de bisões, camelídeos, mastodontes e mamutes.
Na Patagônia, porções sul do território argentino, foram encontradas pinturas rupestres, restos de fogueira e pontas de lança que evidenciam a chegada do homem a essa região há mais ou menos 11.500 anos. Além da caça, os povos dessa região também se sustentavam através da coleta de frutos do mar e da pesca de peixes. Assim como no litoral brasileiro, a Patagônia é marcada pela existência de depósitos calcários também conhecidos como sambaquis.
Em Monte Verde, no Chile, temos um rico sítio arqueológico onde especialistas encontraram restos de madeira, plantas medicinais, ferramentas e pegadas humanas. O alto número de vestígios dessa localidade é explicado pela formação das turfas, material orgânico fossilizado capaz de preservar os vestígios pré-históricos encontrados na região. Segundo apontam as estimativas, os fósseis de Monte Verde teriam entre 13.500 e 11.800 anos de idade.
Pré-História Americana: Período Neolítico
Os centros urbanos eram bastante reduzidos e o processo de fixação do homem em um mesmo lugar (sedentarismo) articulava os seus primeiros passos. Um pouco mais tarde, entre 3000 e 1500 a.C., a agricultura tomava espaço com o cultivo de tubérculos e plantas autóctones, como cacau, mandioca, girassol, batata, milho e abóbora. A produção agrícola era empregada com um leque diversificado de técnicas entre as quais se incluíam o plantio em terraços, a irrigação e a fertilização do solo.
A pecuária não tinha grande destaque, se limitando à domesticação de alpacas e lhamas predominantemente úteis para o transporte, exploração das peles e alimento. Os indícios mais antigos de atividade agrícola aparecem em escavações realizadas no estado mexicano de Tamaulipas e no vale de Tehuacán, localizado no mesmo país. No território andino, o desenvolvimento dessa mesma atividade foi mais lento em razão das baixas temperaturas e dos vários acidentes geográficos.
É importante assinalar que a caracterização do desenvolvimento tecnológico americano dessa época se diferencia bastante em relação ao do Velho Mundo. Inventos como a roda, o arco, a escrita alfabética e a metalurgia não aparece entre os povos americanos dessa época. Contudo, isso não indica um sinônimo de atraso, já que grandes civilizações e sociedades complexas se desenvolveram no continente.
Findando essa época da história americana, devemos destacar que o processo de sedentarização do neolítico também se desenvolveu em outras regiões da América. No sudoeste norte-americano temos o desenvolvimento das culturas anasazi, hohokan e mogollon. Já na América do Sul, esse mesmo processo de desenvolvimento agrícola permitiu a consolidação das culturas dos povos tupis, guaranis, caraíbas, entre outras civilizações.
Pré-História brasileira
Em São Raimundo Nonato (PI), um grupo de arqueólogos liderados por Niède Guidon notificou a presença de facas, machados e fogueiras com cerca de 48 mil anos de existência. Entre as principais conclusões desses estudos, destaca-se a presença de comunidades coletivas que caçavam e utilizavam o fogo para protegerem-se e alimentarem-se.
Na região de Lagoa Santa (MG) é o local onde está registrado uma das mais notórias descobertas da arqueologia nacional. Foi ali que se achou o mais antigo fóssil das Américas. Trata-se do crânio feminino que existiu há cerca de 11.500 anos. Pesquisas desenvolvidas a partir desse fóssil (apelidado de Luzia) abriram portas para novas teorias sobre o processo de ocupação do continente. Os traços negróides de Luzia levantam a suspeita de uma onda migratória da Oceania, responsável pela ocupação do nosso continente.
Próxima das regiões de rio e no litoral do Brasil existe outro conjunto de vestígios pré-históricos. Nestes lugares, montes de conchas e esqueletos de peixe conferem a existência de comunidades inteiras que sobreviviam da pesca. Também conhecidos como povos sambaquis, essas populações foram usualmente detectadas no Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. No ano de 2001, o mais antigo sambaqui brasileiro foi encontrado em Vale do Ribeira (SP).
Nas regiões do interior do Brasil também são encontrados riquíssimos sítios arqueológicos. Os chamados “cemitérios dos índios” são, na verdade, vestígios de antigas civilizações do território brasileiro. Ali encontramos grandes aldeias que realizavam sofisticados rituais funerários. Datados com cerca de mil anos, esses povos possuíam uma cultura bastante diferente da dos sambaquis.
Ainda na região amazônica, temos relato sobre um outro conjunto de povos pré-históricos. Designados como integrantes da civilização marajoara, esses povos deixaram interessantes vestígios materiais. Dotados de uma arte ceramista ricamente detalhada, os marajoaras faz parte dos mais complexos grupos humanos que viveram em terras brasileiras.
Com o passar dos anos, as civilizações ameríndias foram desenvolvendo-se em território nacional. Espalhados em diferentes tribos, os índios brasileiros integraram uma parte mais recente da História das populações nativas do Brasil. A partir do século XV, a chegada dos europeus transformou radicalmente a situação dos índios. A intolerância religiosa e cultural, a violência e as epidemias foram responsáveis pela dizimação dos povos indígenas no país.
Os povos sambaquis
Por volta de 10 mil anos atrás, as transformações da natureza foram responsáveis pelo deslocamento das populações que habitavam o continente americano. A elevação dos níveis de temperatura e dos oceanos motivou os homens dessa época a se deslocarem para as regiões litorâneas da América. A presença humana nessas localidades foi comprovada por meio de aglomerados de conchas e restos de peixes com mais de trinta metros de altura.
O nome desse tipo de formação calcária ficou conhecido como sambaqui, termo em tupi que significa “monte de conchas”. A tese mais comum sobre a existência dos sambaquis explica que a sucessão de comunidades litorâneas foi responsável pela acumulação de conchas, ossos de peixes e outros restos de alimento próximos a vestígios de casas e ossadas humanas. Com o passar dos milênios, esse depósitos alcançaram grandes alturas que deram origem a um sambaqui.
A formação dessas comunidades corresponde à transformação dos hábitos alimentares do homem pré-histórico das Américas. Com o passar do tempo, a caça e a coleta perderam espaço para uma dieta marcada pelo sistemático consumo de peixes, crustáceos e outros frutos do mar. Examinando a estrutura interna e os terrenos próximos aos sambaquis, percebemos que suas comunidades desenvolveram o artesanato, a escultura e trabalharam com a pedra polida.
No Brasil, os sambaquis podem ser encontrados ao longo do litoral nordestino, no Rio de Janeiro, em São Paulo, e em outras partes do litoral gaúcho. Os maiores sambaquis brasileiros foram encontrados nas cidades de São Francisco do Sul, Laguna e Garuva, no estado de Santa Catarina, onde temos formações com 30 metros de altura e 400 metros de extensão. O mais antigo sambaqui brasileiro foi encontrado no Vale do Ribeira, em São Paulo, e tem aproximadamente nove mil anos de existência.
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